EBS do Vale do Âncora – Projeto “UMMAR de Trabalhos” – Atividade 4 – Encontro com o pescador Sr. Celestino Ribeiro – O trabalho no mar

Dando continuidade ao Projeto “UMMAR de Trabalhos”, o qual elegeu a obra “Lendas do Mar”, de José Jorge Letria, como norte para um percurso de aprendizagens e saberes enquadrados em todas as disciplinas, decorreu, na passada sexta-feira, dia 8 de fevereiro, pelas 11:00 horas, na EBS do Vale do Âncora, a atividade 4 – o encontro com um Homem do Mar, o Sr. Celestino Ribeiro, um pescador da pesca do bacalhau, à linha, nos dóris. 
Os 34 alunos das duas turmas do 3.º ano de escolaridade, orientados pelos seus professores (Marília Rodrigues e António Garrido), realizaram um trabalho prévio de investigação e preparação da entrevista, construindo um guião com quase 30 perguntas a que, de forma sábia e paciente, o Sr. Celestino respondeu, tornando viva, perante o olhar atento e admirado dos alunos, a dureza da vida e do trabalho na pesca do bacalhau, nas águas gélidas do Atlântico Norte. O conteúdo desta extensa entrevista será divulgado, por escrito, numa publicação a realizar posteriormente neste blogue. 
Contudo e porque foi um dos relatos mais marcantes feito, na primeira pessoa, pelo Sr. Celestino, e que mereceu a maior atenção e o maior silêncio por parte dos alunos, importa partilhar uma experiência dolorosa vivida por este homem do mar que, sozinho no seu dóri, já sem avistar o navio-mãe, e no momento de lançar o aparelho de pesca, verifica que um enorme anzol lhe trespassou, por duas vezes, a mão esquerda. Com a barbela a impedir o anzol de recuar, é impossível retirá-lo da mão que, rapidamente, começa a inchar e impede o Sr. Celestino de alar (recolher) o aparelho de pesca que se encontra no mar. Remar é também completamente impossível! Olhando em redor em busca de ajuda, o bravo pescador julga ver, ao longe, o dóri de um companheiro. Levanta um remo com uma peça de roupa na extremidade e começa a tocar um búzio para lhe tentar chamar a atenção. Notando que algo de estranho se passa, o companheiro deixa o seu aparelho de pesca seguro com uma boia e, rapidamente, rema em direção ao dóri do Sr. Celestino. Chegado junto ao companheiro magoado e verificando que não é possível remover o anzol, decidem deixar o aparelho de pesca seguro com uma boia e, com todas as forças, o companheiro reboca o dóri do Sr. Celestino em direção a uma embarcação maior que conseguem avistar. Lá chegados, o enfermeiro de serviço remove o anzol da mão inchada e dorida do Sr. Celestino, realiza o necessário curativo e, após o agradecimento, faz-se a despedida. A embarcação maior que presta socorro chamava-se Celeste Maria. 
Nas palavras do Sr. Celestino, embora, por vezes, houvesse alguns desentendimentos e discussões a bordo, aqueles quase 70 homens que chegavam a viver, no mar, durante seis e mais meses, eram de uma solidariedade enorme e ninguém descansava enquanto o último dóri, do último homem, não estava resguardado no convés, e o companheiro, em segurança, entre os seus pares. O contributo do Sr. Celestino Ribeiro para uma melhor compreensão, por parte dos nossos alunos, da vida e do trabalho árduo no mar, foi ímpar. A vastidão dos seus conhecimentos e experiências, a simplicidade com que falou da sua vida dura no mar, a forma como se comoveu recordando os companheiros falecidos, a sua simpatia e o seu carinho, garantiram-lhe lugar de destaque na memória das nossas crianças. A EBS do Vale do Âncora e o Agrupamento de Escolas Sidónio Pais, estão-lhe, por isso, muito gratos.

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