EB1 de Vilarelho :: Entrevista ao escritor João Manuel Ribeiro

No âmbito da disciplina de Português e na preparação do encontro, na EB1 de Vilarelho, com o escritor João Manuel Ribeiro, que teve lugar no dia 23 de janeiro, passado, a turma dos 3.º e 4.º anos elaborou um guião de entrevista para, de uma forma orientada e organizada, ficar a conhecer melhor a personalidade deste escritor que marcou pela sua criatividade, proximidade e simpatia. No final da sessão, o JMR levou as nossas perguntas e hoje mesmo enviou-nos, por escrito e via e-mail, as respostas que nos deu oralmente no dia do encontro. Torna-se, deste modo, possível dar a conhecer, a todos, o mundo e as reflexões deste que é já considerado um dos mais promissores autores de poesia para a infância. 

 -- ENTREVISTA --  

Quando era criança, gostava de livros e da leitura? Em sua casa, havia muitos livros? Os seus familiares eram bons leitores? Já tinha escritores na sua família? Sempre gostei muito de histórias, de poemas e de palavras, mas, na casa da minha infância não houve livros. Não havia condições para os haver – a minha família era pobre, vivia do trabalho no campo e da fábrica e não havia dinheiro para comprar livros. Mas creio que posso dizer que, na minha infância, há um livro vivo – o meu avô – que, todos os dias, me contava histórias e dizia poemas (cantilenas e rimas infantis). O meu avô gostava de brincar com o som e o sentido das palavras e com ele aprendi a ter-lhes amor. Mas nem ele nem os meus pais eram leitores, eram, antes, ouvidores e contadores de histórias tradicionais e populares. Na minha família também não havia escritores. 

Quando decidiu ser escritor, que dificuldades encontrou? Como as ultrapassou? Escrever é diferente de publicar. De escrever sempre gostei e nunca encontrei dificuldades de maior. Em publicar tive, ao início, bastante dificuldade em encontrar quem editasse os meus textos, sobretudo poemas. As editoras estão sempre de pé atrás com os novos escritores, mesmo quando lhe reconhecem valor. Hoje talvez seja um pouco diferente, mas quando comecei a publicar não era fácil. Ultrapassei essa dificuldade sendo muito teimoso (ou perseverante) e não desistindo de enviar os textos para uns e para outros. 

Como é o dia-a-dia de um escritor? Diria que o meu dia-a-dia como escritor é muito comum: escrevo da parte da manhã, leio da parte de tarde e ao fim do dia e à noite revejo e corrijo o que escrevi de manhã. A dinâmica do dia também depende do tipo de texto que estrou a escrever: um conto ou uma narrativa dá-me mais trabalho e é mais cansativo; os poemas, para mim, dão-me menos trabalho, porque me permite, de início, escrever ao sabor do prazer e da emoção e só depois rever e aperfeiçoar. 

Qual foi a primeira obra que publicou? Este primeiro livro, teve um significado especial para si? Se sim, qual foi? Quem o ilustrou? A primeira obra que publiquei foi o Rondel de Rimas para meninos e meninas, no ano de 2008. Este livro teve e continua a ter um significado especial para mim, porque foi a primeira (e o povo diz que não há amor como o primeiro) e, porque, de cerro modo, abriu as portas a todos os outros que se lhe seguiram. Ainda hoje este livro ocupa um lugar muito especial no meu coração. Há nele poemas muito simples e bonitos e muito antigos e tocantes. Quem ilustrou esse livro foi a Anabela Dias, ilustradora cujo trabalho aprecio muito. 

Quantas obras já publicou? Que idade devem ter os leitores dos seus livros? Já publiquei 52 livros, repartidos entre a poesia (o tipo de texto de que mais gosto), a narrativa (histórias, contos e novelas) e os jogos poéticos (ou brincadeiras, como adivinhas, provérbios, destrava-línguas, etc). Gosto de pensar que todos, mesmo todos, podem ser leitores dos livros que escrevo e publico. Neste aspeto, a literatura para a infância e a juventude é verdadeiramente universal, porque pode ser lida por todos, tenha a idade que tiver (e se se tiver ainda um coração de criança)! 

Quando pensa em construir um novo livro, como se inspira? Como nascem as ideias? As ideias andam por aí, pairam no ar, nos jornais, nas revistas; também se aninham na memória e nas recordações. Então, eu inspiro-me no que vejo, ouço, cheiro, penso, sinto e cheiro, isto é, ando sempre atento e desperto às pequenas coisas que, muitas vezes, tornam-se o motivo de uma história, de um poema. Outra fonte inesgotável de ideias são os livros que leio. Eu acredito que, nos livros, as ideias são como as cerejas: atrás de uma ideia nasce outra e outra e outra ideia. 

Qual o seu escritor favorito? Qual o seu livro preferido como leitor? De entre os muitos escritores portugueses que gosto de ler aparecem em primeiro lugar o Álvaro Magalhães e a Luísa Ducla Soares, mas podia alongar a lista. Como leitor, e no que apenas se refere à literatura infantil e juvenil, os meus livros preferidos são O Princepezinho, de Antoine de Saint-Exupery; A História interminável e Momo, de Micael Ende; A História de Fernão Capelo Gaivota e Não há longe nem distância, de Richard Bach. 

Enquanto escritor, que importância atribui aos ilustradores? Qual o seu ilustrador favorito? Na literatura infantil e juvenil, os ilustradores são coautores, na medida em que são os leitores e intérpretes privilegiados do texto do escritor ou poeta e, na sua linguagem visual, (re)criam ou (re)escrevem o texto. Daqui que considere que os ilustradores são fundamentais e desempenhem um papel muito importante na adesão dos leitores à história / poema, em concreto, e ao livro, em geral. De entre os muitos ilustradores portugueses de que gosto aparecem em primeiro lugar o João Vaz de Carvalho e a Teresa Lima, mas, como disse a propósito dos escritores, podia alongar a lista. 

Sobre o JMR, conheça mais em: http://joaomanuelribeiro.pt/

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